domingo, 19 de janeiro de 2014

A TRISTE PROSTITUIÇÃO DE SÃO LUÍS



A população de São Luís sofre há muitas décadas com o descaso de políticos que não dão a mínima para a cidade, seus espaços, sua função social. Que não vêem a cidade como deve ser vista: como o lar de pessoas de bem. Pessoas que crescem, casam, têm filhos, os criam, têm netos, ajudam a cria-los, envelhecem e morrem neste espaço. Não vêem a cidade como parte fundamental de nossas vidas. Apenas a vêem como um meio para alcançar e manter um poder pessoal que há muito já deveria ter sido extinto.

A urbanidade das pessoas depende muito do espaço físico que as cerca. Não há como querer que as pessoas ajam com civilidade, respeito, civismo, educação e gentileza, vivendo em um espaço não condizente com tais comportamentos. Não há como querer que as pessoas estejam imbuídas de cidadania sem que elas se sintam parte de nossa sociedade. Não há como esperar que as pessoas estejam satisfeitas, felizes, contribuindo para o engrandecimento de nossa sociedade, sem que o espaço que as cerca não reflita tais sentimentos bons.

Tenho 40 anos de idade, nasci em São Luís, e a cada ano me entristeço mais com o destino de minha cidade querida. A cada ano vejo pedaços de nossa cidade, que se tornaram pedaços de minha vida, pedaços de mim, sendo destruídos pela improbidade e ganância de políticos corruptos, ignorantes e imorais que se prostituem em busca do poder. Que prostituem nossa cidade, nossos bairros, nossas praças, nossas praias, nossas belezas e nossa população para alcançarem e manterem um poder roubado, que não é deles, mas nosso, dos cidadãos de bem. Que transformam nossa cidade em um grande prostíbulo a céu aberto, motivo de nossa desonra, e de chacotas nacionais.

Nossa cidade têm sido por décadas tratada como uma prostituta escrava, forçada por seu cafetão a consumir drogas, a se auto-destruir, a se vender, a se entregar em troca de qualquer trocado. Cafetões que por décadas conduzem nossas cidades no cabresto, com seus bigodes e ternos de linho, seus semblantes suados do sol de nossas veredas tropicais, seus cabelos engomados, seus rostos enrugados e suas consciências lavadas junto com o dinheiro sujo que enche seus bolsos.

Nossa cidade tem crescido em meio ao caos, à sujeira, ao cheiro de esgoto, à ocupação desenfreada e desorganizada dos espaços públicos, que têm sido grilados por décadas pelos mesmos pseudo-políticos que a prostituem.

Precisamos de praças, de quadras esportivas, de jardins, de plantas, de árvores, de flores, de bancos, de sombras, de coisas simples que tragam de volta a beleza secular de nossa ilha, e o convívio social de nossa gente. Que traga de volta o sorriso das crianças, das mães, o orgulho de sermos ludovicentes.

Precisamos de espaço de convivência social sadia. De ar puro, de beleza. De espaços públicos que renovem nossos ânimos. Que nos lembrem que somos pessoas humanas, evoluídas, civilizadas, educadas. Que somos muito mais do que estes falsos políticos, por décadas, nos fizeram pensar.

O comércio deve ser exercido, sim, gerando empregos, gerando renda. Mas de forma organizada, respeitando nossa cidade, nosso povo, nossa cultura, nossa beleza natural. A população e os comerciantes só têm a ganhar com isso.

A ocupação desorganizada e caotica, suja, horrorosa, de mal gosto e insustentável que vem acontecendo por décadas em nossa cidade é fruto apenas da incompetência, da improbidade e do descomprometimento de nossos representantes por décadas.

Afinal, é mais fácil conseguir votos se prostituindo e prostituindo a cidade inteira do que tomando medidas a princípio impopulares, que mexem com interesses de alguns donos do poder, e não geram formas de escoamento de dinheiro público.

Não precisamos cobrir o Estado todo de asfalto de péssima qualidade, que terá que ser refeito daqui há um mês, em uma eterna roda viva que só alegra os bolsos de empreiteros desonestos e de grupos que recebem percentuais desse dinheiro a fim de se perpetuar no poder.

Precisamos é de novos políticos que tenham coragem para fazer o que deve ser feito. Que tenha equilíbrio para ouvir as demandas sociais, de classes e grupos distintos. Que tenha tato para saber conversar e resolver os problemas crônicos de nossa cidade, que pedem soluções que, com certeza, sempre desagradaram alguns. Mas que, entretanto, tenham firmeza para seguir em frente, não obstante as críticas desinformadas. Não obstante as intrigas e as difamações daqueles que querem que nada mude. Que tudo permaneça do mesmo jeito que está há décadas e décadas. Do jeito que não interessa a nós, mas apenas àqueles cafetões de nossa política e de nossa cidade.

Parabéns à atitude da atual administração de nossa cidade, que tem re-estabelecido os espaços públicos. Esperamos que atitudes como esta se multipliquem exponencialmente. E que em breve possamos ter nossos espaços públicos bonitos novamente, nossos canteiros plantados, nossas praças cheias de famílias, de crianças brincando. Nossa gente alegre, divertindo-se de forma saudável, convivendo como vizinhos, pessoas de bem, ocupando os espaços públicos com vida, alegria e felicidade.

Parafraseando um eminente filósofo que praticamente fundou nossa civilização, afirmo que “é preferível construir praças para crianças do que cadeia para os homens”.

Se queremos acabar com a bandidagem de nossas ruas e de nossas instituições democráticas, precisamos começar a viver como pessoas de bem. Precisamos tratar nossas cidades como parte de nossas vidas, como de fato são.




*Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.


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