domingo, 21 de agosto de 2016

Ficha Limpa e Espírito Olímpico


Muito lindo esse tal de espírito olímpico, que, penso eu, é representado por aquelas argolas coloridas unidas umas às outras no símbolo das olimpíadas. Povos diferentes, coloridos, unidos em uma grande festa composta de grandes atrações e grandes jogos, onde se pode, juntos, comemorar o ápice do potencial humano, incentivando pessoas que dedicam suas vidas a ultrapassarem permanentemente seus limites em busca de alcançar sempre mais além do que foi alcançado antes.

Muito lindo isso, não? Mas infelizmente, muitas pessoas parecem ter se perdido deste ideal, talvez por conta de que muitos dos governantes de nosso planetinha, em seus devaneios de poder e em suas mesquinhas razões, acabaram por transformar os  jogos internacionais em demonstrações de força, igual cachorros que latem mais alto, ou que urinam demarcando território. Talvez porque a grande mídia, que não entende nada de nada, induz os espectadores a pensarem que muito mais importante do que competir, é apenas ganhar. Vai entender…

E daí vemos transformarem grandes homens e mulheres, dignos de muito respeito pelo sacrifício e dedicação constante que são suas vidas, em meros mutleys (o cachorro do Dick Vigarista que só pensa em medalhas:_ Medalha, medalha, medalha...), como se um pedaço de metal brilhante significasse mais do que o fato de que todos eles são pessoas fenomenais, extraordinárias, que estão no limiar da capacidade humana, no máximo que um ser humano consegue alcançar fisicamente.

Tolas as pessoas que pensam que nadar um milhonésimo de segundo mais rápido do que os demais o torna melhor que os outros, ou que torna os outros menores ou piores que este sortudo pelo qual a água escorregou um fiapinho a mais naquele pedacinho do dedo do pé direito. Alguém mais técnico e meticuloso pode dizer que estou falando besteira. E eu apenas acenarei a cabeça sorrindo pra ele, em sinal de respeito…

Enfim, o tal do espírito olímpico fica pra trás quando gente ignorante vaia seus atletas pelo fato de que eles deram o melhor de si por toda a sua vida, mas não ganharam aquele pedacinho idiota de metal reluzente. Fica pra trás quando alguém ignorante perde um jogo pra uma equipe que perdeu antes deles, e joga na cara que da outra vez eles ganharam de 7 a 1. Além de falta de espírito olímpico, chega a ser ridículo e infantil esse mimimi. Mas afinal, onde está o tal do espírito olímpico? 

E viro a página do jornal, e dou de cara com os digníssimos ilustríssimos senhores doutores magnânimos cheirosos ministros da excelsa pretória magistral corte constitucional brasileira (me amarro nesses adjetivos ridículos e obtusos medievais que deixam claro que, apesar da máscara de república que usam nossos fofuchos governantes, ainda vivemos os mesmos privilégios, as mesmas discriminações e os mesmos abusos que vivíamos na era medieval, antes do pacto social e do tal do Estado democrático de direito moderno).

E o que nossos paladinos da justiça, guardiães de nossa Constituição estão fazendo? Nada além do que fazem todos os dias - tentar conquistar o mundo, como o Pink e o Cérebro. E como o fazem agora? Jogando mais uma vez no lixo a vontade do povo, a tal da soberania popular, e usando (pasmem), como argumento para isso, justamente a própria.
A famosa lei da ficha limpa foi uma resposta angustiada de nossos parlamentares ao clamor de toda a sociedade pela moralização mínima de nossa Administração Pública. Como muito bem disse a ministra Rosa Webber no Julgamento da ADC 29, “a Lei da Ficha limpa foi gestada no ventre moralizante da sociedade brasileira, que está a exigir dos poderes instituídos, primeiro do Legislativo, e, agora, do Judiciário, um “basta””.

Pois é. Semana passada, mais uma parte importantíssima dela foi praticamente anulada por nossa “suprema corte” (até onde estudei, corte era o conjunto dos parasitas sociais que “cortejavam” os reis e sugavam o trabalho da população. Não entendo porque nosso judiciário faz questão de se chamar assim. Se eu fosse juiz iria considerar um insulto).

Ao argumento principal de que a soberania popular é o que mais importa, e que o legislativo representa a soberania popular, decidiram que os tribunais de contas não têm poder para rejeitar as contas de políticos bandidos, gerando suas inelegibilidades. Mas que apenas o Legislativo  pode tornar esses políticos inelegíveis. Algo como deixar os lobos tomarem conta do galinheiro, não? 

O que eles esquecem é que a soberania popular não é apenas exercida de forma indireta por meio dos representantes eleitos no legislativo. Ela também é exercida, de forma DIRETA (e portanto muito mais significativa) de outros meios, dentre os quais a apresentação de projetos de lei de iniciativa popular. E mais ainda. A tal lei da ficha limpa, apresentada pela população, foi votada pelo legislativo. Será que o STF tem mais legitimidade que o povo e o legislativo juntos? 


Mas o que isso tem a ver com o espírito olímpico? É que anteriormente alguns ministros daquela “corte” rejeitaram a lei da ficha limpa, e foram votos vencidos. Até hoje não enguliram essa derrota, e a qualquer chance que têem, ficam de mimimimimimimimimimi...

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