domingo, 28 de dezembro de 2014

MAIS UMA DOSE...

Por Edson Vidigal*
“Mais uma dose? É claro que eu estou a fim. A noite nunca tem fim. Por que que a gente é assim?”
Os versos do poeta transgressor Cazuza, de sua música “Por que a gente é assim?”, parecem -me perfeitos para trilha sonora de nossa passagem de ano.
Um ano onde muito se discutiu e onde pouco resultado se viu.
Um ano onde, por um lado, percebemos que boa parte da população parece ter acordado (finalmente!) para a enganação hipócrita de nosso governo, para esse conto da carochinha que vivemos há mais de uma década. Mas, por outro, infelizmente percebemos que a maioria ainda se encontra adormecida, embriagada e ávida por mais uma dose dessa cachaça que nos faz fracos, dependentes, estagnados. Presos a um Brasil que parece que não quer amadurecer ou crescer nunca. Um Brasil de falsidades, de mentiras, de cinismo. Um Brasil governado por macunaímas que, auto-intitulando-se exemplos a serem seguidos, querem fazer de nosso país um grande romance de Mário de Andrade, ou talvez uma grande tragédia de Nelson Rodrigues.
E um brinde a esta cachaça que, de predileção pessoal de nosso atual maior governante, tem sido, a nós, empurrada goela abaixo.
Entramos um novo ano com mais uma dose de incompetência, de cinismo, de corrupção.
Mais uma dose de autoritarismo, de artimanhas anti-democráticas, de táticas inescrupulosas de se buscar uma artificial hegemonia totalitária. Hegemonia essa que se pretende conquistar às custas da fragmentação de nossa sociedade, do incentivo à discórdia, à segmentação de classe, de raças, de credos.
Nunca antes na história deste país houve tanto incentivo governamental à intolerância, à cisão de minorias, ao desrespeito de credos, de opções filosóficas, sexuais, religiosas.
Nunca houve tanto desrespeito à nossa lingua, às nossas instituições democráticas, aos valores sociais da família, da livre iniciativa, do empreendedorismo, da meritocracia, do trabalho como meio de se alcançar a dignidade.
Nunca houve tanto desrespeito para com a nossa Constituição e os valores por ela acatados como fundamentais ao nosso Estado Democrático de Direito. E tudo com a maior cara de pau, e o maior discurso populista.
Chegamos ao ponto de criminosos serem exaltados como heróis. Ao ponto de termos nossos maiores governantes, que deveriam dar exemplo à nação, envolvidos com os maiores episódios de corrupção da história, não só de nosso país, mas do mundo ocidental. Episódios que nos envergonham mundialmente e que causam perplexidade nos quatro cantos do planeta.
Chegamos ao ponto de termos políticos eleitos e reeleitos, considerados por nosso judiciário como “ficha limpa”, que se puserem os pés fora do Brasil serão imediatamente presos, por serem procurados por crimes ao redor do mundo.
Mas parece que preferimos viver na ilha dos lotófagos, fora do tempo e do espaço, esquecidos de tudo, embriagados com essa cachaça chamada de populismo.
Vendendo nossa dignidade por trocados, por ilusões, por quimeras que em breve cobrarão seu preço.
Muitos se esqueceram, mas o natal não é o aniversário de papai noel - o bom velhinho da Coca-Cola, que segundo a banda de punk paulista “Ratos de porão”, é um “velhinho batuta que rejeita os miseráveis, presenteia os ricos e cospe nos pobres”. O natal é a data na qual se comemora o nascimento de Cristo Redentor, aquele que traz as boas novas de um futuro redimido de todos os erros que cometemos.
Mas essa redenção não é gratuita. É feita às custas de sacrifício, de entrega.
Antes de tudo, precisamos entender e aceitar que estamos errados. Arrependermos de nossos erros, para que possamos seguir em frente livre do peso daquilo que nos faz mal.
Espero que neste novo ano consigamos, aos poucos, nos livrar do que nos faz mal. Da intolerância, da ganância, da hipocrisia, da corrupção, da falta de vergonha na cara que engana a todos e a si mesmo.
Precisamos nos livrar, principalmente dessa cachaça que nos é empurrada em troca de abrirmos mão de nossos valores, de nossa dignidade.
Que venha o próximo ano, e a próxima dose desse veneno, que eu, pelo menos, não pretendo, em nenhuma hipótese, beber.
“CANIBAIS DE NÓS MESMOS, ANTES QUE A TERRA NOS COMA. CEM GRAMAS, SEM DRAMA. POR QUE A GENTE É ASSIM?”
Cazuza

* Edson José Travassos Vidigal foi candidato a deputado estadual nestas eleições pelo PTC, número 36222. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.
Siga Edson Vidigal no Twitter!
Twitter: @Edson_Vidigal
Facebook: edson.vidigal.36
e-mail: contato@edsonvidigal.com.br
Blogs: edsontravassosvidigal.blogspot.com.br

domingo, 14 de dezembro de 2014

SONOS E SONHOS

Por Edson Vidigal *


O imenso vazio do escuro, que nos faz imaginar muriçocas em nossos ouvidos, saltos gelados de jias em nossas pernas, e um infinito “infinito” de sonhos e possibilidades.

Dura escolha entre picadas silenciosas em meio ao sono ou zumbidos intermináveis que não nos deixam dormir.

Meu reino por uma redoma, digna do Volpone, em ambiente estéril milimetricamente controlado, livre de micro-organismos, cheiros e gostos.

Um mundo insosso sem picadas e sem zumbidos. Sem jias nas pernas.

Um mundo sem o “muriçôco-mor” e seu café filosófico às duas da matina.


INDIGNAÇÃO

- O Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou com ressalvas, na sessão desta quarta-feira (10), as prestações de contas de campanha de Dilma Rousseff e do Comitê Financeiro Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) para presidente da República nas Eleições 2014. Por unanimidade, os ministros do Tribunal consideraram que as impropriedades e irregularidades encontradas nas prestações apresentadas não são suficientes para a desaprovação das contas.

- A Assessoria técnica do TSE sugeriu a desaprovação das contas de Dilma por constatar impropriedades que correspondem a 5,22% e irregularidades que equivalem a 4,05% do total das receitas e a 13,88% (R$ 48.592.795,21) do volume das despesas declaradas. O órgão técnico informou que as receitas de campanha de Dilma alcançaram R$ 350.493.401,70 e os gastos R$ 350.232.163,64.

- A unidade técnica apontou, nas prestações, impropriedades como recibos eleitorais que comprovam arrecadação de recursos estimáveis em dinheiro sem assinatura do doador (R$ 1.663.943,00), recursos estimáveis arrecadados desacompanhados dos respectivos termos de doação (R$17.524.718,00), pagamento de despesas a pessoas jurídicas sem emissão de nota fiscal (R$ 79.676,82), registro de doações diretas recebidas na fonte em exame e não declaradas pelos prestadores de contas que efetuaram as doações (R$ 13.621.016,00), entre outros itens.

- também foram indicadas as seguintes irregularidades: não apresentação de documentos para comprovar a regularidade de aplicação de recursos ou irregularidade nos documentos apresentados (R$ 14.517.341,00), e em doações indiretas com a correspondência dos doadores originários da ordem de R$ 22.070.000,00, entre outros pontos.

- Não obstante as irregularidades apontadas, o TSE aprovou as contas da candidata DIlma Roussef, por considerar que o percentual de irregularidades apresentado não compromete a regularidade da totalidade das contas.


VERDADE

- Pode parecer piada dizer que quase 50 milhões (R$ 48.592.795,21) em irregularidades aferidas na prestação de contas da candidata petista é um valor despresível, não capaz de comprometer uma prestação de contas ao cargo mais importante de nossa nação. Mas quem já está acostumado às absurdas e oportunistas decisões do TSE sabe que os palhaços somos nós.

- Parece também que aquele conhecido político que uma vez disse que era 90% honesto está fazendo escola na Justiça Eleitoral. Pois, para o TSE, 10% de desonestidade nas contas de uma campanha é “perfeitamente aceitável”, tendo sido este o percentual arbitrado por suas excelências como limite de irregularidades aferidas para que as contas sejam aprovadas.

- Mas há ainda uma luz no fim do túnel. O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto, ponderou que tal aprovação das contas “não confere chancela a possíveis ilícitos antecedentes e/ou vinculados às doações e às despesas eleitorais, tampouco a eventuais ilícitos verificados pelos órgãos fiscalizadores no curso de investigações em andamento ou futuras”.

- Acrescentou ainda: “Pelo contrário, foram verificados indícios de irregularidades que merecem a devida apuração”.

- E agora, Chapolin Colorado? Quem poderá nos defender???


* Edson José Travassos Vidigal foi candidato a deputado estadual nestas eleições pelo PTC, número 36222. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.


Siga Edson Vidigal no Twitter!
Twitter: @Edson_Vidigal
www.edsonvidigal.com.br
Facebook: edson.vidigal.36
canal do youtube:https://www.youtube.com/channel/UCCGmNJga6Xhj9PCn1_tDrug
e-mail: contato@edsonvidigal.com.br
currículo: http://lattes.cnpq.br/7417413719215392
Blogs: edsontravassosvidigal.blogspot.com.br
http://blog.jornalpequeno.com.br/edsontravassosvidigal