Por Edson Vidigal*
Mais uma vez nossos representantes eleitos
nos fazem de idiotas e riem de nossas já tão cuspidas caras. No decorrer de
séculos de desrespeito para com os brasileiros, parece que nossos “pUderosos de
plantão” se aperfeiçoam a cada dia na arte de nos fazer rir de nós mesmos,
olhando-nos no espelho e vendo nossos narizes vermelhos de palhaço.
Agora, depois de toda a comoção pública em
torno das manifestações populares que deixaram claro a crise de
representatividade de nosso sistema político, bem como a própria crise de
credibilidade de nossas instituições democráticas, nossos representantes nos
respondem com cinismo e arrogância, apresentando propostas de reforma
politiqueiras que só agravam o problema, e, como sempre, só servem aos propósitos
cretinos daqueles que vivem apenas de vampirizar o poder público e sugar cada
gota de sangue de nós, cidadãos.
Depois de tanto se falar em reforma
política, o que nossos digníssimos parlamentares querem aprovar é apenas a
perpetuação deles próprios no poder. Querem aumentar os mandatos de deputados,
vereadores, prefeitos, governadores e presidentes para 5 anos, e os de
senadores para (PASMEM!) 10 anos!!!
Se deixar um cidadão 8 anos em uma cadeira
de tanto poder já era um absurdo, imaginem 10? Como é que isso pode de alguma
forma resolver algum problema de representatividade ou de abusos de poder?
Desculpem-me, mas é preciso uma manobra muito tortuosa de raciocínio lógico
para tentar convencer alguém disso. Desafio quem quer que seja a me provar que
isso não passa de oportunismo cínico, barato e rasteiro.
E mais, querem unificar as eleições, para
que apenas de 5 em 5 anos haja alguma discussão sobre política no país. Se
havendo eleições de 2 em 2 anos, já é difícil a população se manter atualizada,
exercendo alguma forma de cidadania, imaginem havendo eleições apenas de 5 em 5
anos?
Se já é difícil para a população votar em
tantos candidatos de uma vez, estando divididas as eleições em municipais e
gerais, imaginem como a população irá votar em 8 cargos de uma vez só? Imaginem
como ficaremos durante longos 5 anos sem possibilidade de qualquer mudança
política? Sem qualquer possibilidade de oposição aos desmandos de nossos
governantes? Só pode ser piada.
Ainda, nossos digníssimos parlamentares,
pra fechar com chave de ouro suas reformas politiqueiras em prol de sua
perpetuação no poder pela eternidade até o fim dos tempos nos confins das
galáxias distantes, querem aprovar o tal
do DISTRITÃO, que a partir do nome já se vê que não pode ser nada mais que outra
atrocidade da natureza. Algo que em um país sério nunca seria nem cogitado.
Trata-se de um sistema eleitoral que reúne
o que tem de pior do sistema proporcional e o que tem de pior do sistema
majoritário para o legislativo (aqui chamado de
“voto distrital”). Por esse tal de “distritão”, os eleitos seriam os
mais votados do Estado todo (ou do município todo, em caso de eleição
municipal), em ordem decrescente, sem respeitar partidos, minorias, ou nada.
Uma pseudodemocracia que na realidade só legitimaria a perpetuação de coronéis
e caciques no poder para todo o sempre, a cada eleição sendo mais dizimada
qualquer possibilidade de oposição, de existência de minorias, ou de qualquer
forma de garantia de direitos individuais ou coletivos. Um sistema que só prestigia
o personalismo e os abusos de poder econômico, justamente os maiores males que
precisamos combater.
Isso somado à continuação das doações de
campanha por parte de empresas (que nossos digníssimos parlamentares pretendem
manter, e nosso digníssimo ministro Gilmar Mendes faz questão de burlar a lei e
afrontar a democracia para ajudá-los a isso),
garantirá que sempre nossa democracia não passe de uma enganação onde
nós, cidadãos, legitimamos de maneira forçada um poder que serve apenas aos
interesses de grupos econômicos e velhas oligarquias politiqueiras. Enfim, só
nos resta parabenizar mais uma vez nossos ricos “pUderosos de plantão”, por se
reinventarem a cada dia.
Mudam as roupas, permanecem as traças…
INDIGNAÇÃO
- Todas as
manifestações populares que ocorreram nos últimos tempos só serviram para que
nosso parlamento federal, liderado pelo Dep. Eduardo Cunha e pelo Sen. Renan
Calheiros (dois exemplares dignos de representar nossa classe política
brasileira, com louvor) botasse suas manguinhas de fora e, aproveitando-se da
fragilidade do Executivo diante dos escândalos de corrupção que borbulham
diariamente nos jornais, tomasse de vez para si o poder político da nação.
Agora, pintam e bordam, melam-se e lambuzam-se nas tetas de nossa mansa
democracia, aproveitando-se da inocência e da boa fé de todos nós, brasileiros.
Estamos em vias de ver perdidas as últimas décadas de redemocratização em nosso
país. Parece que a terra brasilis não nasceu para ser livre. Ao contrário,
parece que sempre seremos escravos de grotescos
senhores de engenho e suas capitanias hereditárias.
#juntossomosmuitos. É pra avançar!
* Edson José Travassos Vidigal foi candidato a deputado estadual nestas eleições pelo PTC, número 36222. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.
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