segunda-feira, 31 de março de 2014

VOCÊ TEM CERTEZA DE QUE ESTÁ VIVO?

Por Edson Travassos Vidigal*


“Pane no sistema, alguém me desconfigurou. Aonde estão meus olhos de robô? Eu não sabia, eu não tinha percebido. Eu sempre achei que era vivo. Parafuso e fluído em lugar de articulação. Até achava que aqui batia um coração. Nada é orgânico, é tudo programado. E eu achando que tinha me libertado. Mas lá vem eles novamente. Eu sei o que vão fazer: reinstalar o sistema.”

Minha arretada baianinha Pitty acerta em cheio com sua música “Admirável chip novo”, onde mostra que somos tratados como robôs, como coisas a serviço de um sistema que nos engana, que nos faz pensar que estamos vivos, que tomamos nossas próprias decisões, que somos dotados de livre arbítrio, que podemos amar, querer e sonhar.

Mas na verdade somos programados a pensar, ler e falar o que nossos senhores nos permitem. Somos programados a amar o que eles querem que amemos, querer o que eles querem que queiramos e sonhar o que eles querem que sonhemos.

Para eles e seu “admirável mundo novo”, somos descartáveis, reprogramáveis a cada nova moda, a cada nova novela, a cada novo campeonato, a cada nova eleição.

Somos levados a crer que somos donos de nossas vidas, de nossas escolhas, de nosso futuro. Que o poder político é nosso. Que eles trabalham para nós e nos devem satisfação. Mas não é isso que eles pensam. Não é isso que eles querem, não é isso o que eles fazem.

Enquanto não nos conscientizarmos de que a única forma de sermos donos de nossas vidas é participando ativamente da política, diariamente, e não apenas de 2 em dois anos, é assim que sempre seremos: robôs programados. Peças descartáveis de um grande sistema lubrificado pela corrupção, que tem como combustível nossa ignorância, nossa acomodação e nossa subserviência.

“Pense, fale, compre, beba, Leia, vote, não se esqueça. Use, seja, ouça, diga. Tenha, more, gaste, viva... Não senhor, sim senhor, não senhor, sim senhor”. Essa é a ladainha que nos repetem desde que nascemos, que nos convencem desde que nos entendemos por gente.

Como dizia o Renato Russo, “desde pequenos somos programados a receber o que vocês nos empurraram como os enlatados dos USA de nove às seis. Desde pequenos só comemos lixo comercial, industrial, mas agora chegou nossa vez, vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês…”

Pois pois.




“PENSE, FALE, COMPRE, BEBA, LEIA, VOTE. NÃO SE ESQUEÇA” (Pitty - linda e impetuosa cantora baiana que não se deixa intimidar)



INDIGNAÇÃO

- O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, defendeu, semana passada, que os eleitores brasileiros deixem de ser obrigados a comparecer às urnas. “Sou a favor do exercício da cidadania, do voto facultativo, mas precisamos avançar culturalmente para que os brasileiros em geral percebam a importância do voto”.

- Para Marco Aurélio, obrigar o eleitor a votar é uma maneira de tratar o cidadão como “tutelado”. “O cidadão deve ter vontade de exercitar sua vontade. O voto no Brasil sempre foi obrigatório, não decorreu do regime de exceção, mas agora é hora de se avançar e pensar no voto facultativo”, afirmou.

- Marco Aurélio explicou ainda por que o TSE passou a usar em sua publicidade institucional a expressão “vem pra urna” - uma alusão à mensagem “vem pra rua” usada em protestos no ano passado. “Local para o protesto não é a rua, e sim a urna eletrônica”, disse ele.




VERDADE

- Concordo com Marco Aurélio sobre o fim da obrigatoriedade do voto. Acredito que ao estabelecer a obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do voto, nossos constituintes, imbuídos de interesses particulares, pensando em seus próprios umbigos, não perceberam (ou fingiram não perceber) que tal obrigação é incoerente com os valores de uma república democrática.

- A obrigatoriedade do voto visa nada mais que uma legitimação forçada de “puderosos de plantão”, sanguessugas de nossa república desde seus primórdios. Visa criar rebanhos de autômatos teleguiados que se possa manipular e levar às urnas a fim de tomar-lhes o voto.

- A obrigatoriedade do voto visa a criação de currais eleitorais. Visa possibilitar o voto de cabresto. Visa possibilitar o controle e a manipulação de massas para fins particulares. Aliada à indústria da ignorância e da alienação cultural, à indústria da miséria, da seca, da sede, da fome, a obrigatoriedade do voto é o mecanismo perfeito de dominação, de perpetuação no poder.

- Desde a adolescência defendo o voto facultativo. Na época, já percebia intuitivamente que isso era o correto. Agora, muitos anos depois, não só continuo defendendo-o, como tenho argumentos de sobra, filosóficos, jurídicos e políticos, para provar a quem quer que seja que as obrigatoriedades do alistamento eleitoral e do voto são completamente inconstitucionais a partir dos fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito.

- No mais, dizem que quando o cara não #@* na entrada, *#% na saída. Volto a afirmar que Marco Aurélio está redondamente enganado quanto ao seu entendimento do que seja SOBERANIA POPULAR. Soberania é o exercício do poder político. Em nosso país, a teor do parágrafo único do art. 1° de nossa Constituição, tal prerrogativa é do povo. Não somos apenas robôs programados para votar e legitimar os abusos de poder de nossos governantes. Somos donos de nossas vidas, de nossas escolhas, de nossa democracia, e de nosso país. Não deixem que os convençam do contrário!




*Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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