sábado, 1 de fevereiro de 2014

A MINHA ALMA TÁ ARMADA E APONTADA!

“A minha alma tá armada e apontada para cara do sossego! Pois paz sem voz não é paz, é medo!”
Com essa linda frase, da música “Minha Alma (A paz que eu não quero)”, a banda carioca “O Rappa” rompe o silêncio a todos nós imposto pelos donos do poder. E continua sua reflexão ponderando: “as grades do condomínio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que tá nessa prisão”. De fato, a questão merece ser pensada: Será que não estamos sendo forçados a viver adormecidos, calados, amordaçados em uma prisão?
Prisão do corpo, que não pode se mover em nossas ruas sem o temor de que aconteça o pior. E principalmente prisão da alma, que segue amordaçada por décadas de um coronelismo que se utiliza de todos os meios possíveis para calar qualquer voz de verdade que se arrisque. A apagar qualquer chama de justiça que se atreva.
Na Odisséia, clássica história grega de Homero, o herói Ulisses, tentando voltar para Ítaca, sua casa, depois da guerra de Tróia, acaba enfrentando 10 anos de infortúnios, dentre os quais o pior deles: o próprio esquecimento de si. Esquecimento de quem era, de onde veio e para onde ia.
Em meio à sua viagem de regresso pelo mar mediterrâneo, ele acabou parando na ilha dos comedores de lotus, uma flor que, se ingerida, levava ao esquecimento. A partir de seu gosto, anos pareciam horas, e décadas pareciam dias. E a embriaguez tomou conta da razão de Ulisses e de sua tripulação, fazendo com que eles simplesmente desistissem de sua viagem. Esquecessem quem eram e o que faziam, e simplesmente adormecessem sossegados em meio a uma ilha de ilusão e sonhos.
Uma verdadeira prisão de paz e sossego. Uma prisão de mentiras, de ilusões, de esquecimento. A pior de todas as prisões: aquela da qual não se quer sair, simplesmente porque nem se sabe que se está preso.
Em nosso surrado e espoliado Estado, temos vivido décadas de mentiras, de ilusões, de sonhos, de pesadelos, de promessas, de esquecimento.
Décadas que, aos desavisados esquecidos podem parecer dias, ou mesmo horas. Mas aos que, com muito custo, teimam em permanecer despertos, parecem séculos.
Décadas onde a maioria é iludida a permanecer calada, amordaçada, entorpecida, esquecida, iludida às custas da ingestão do lótus maranhense, que com certeza não nasce de palmeiras de babaçu, mas, sim, das entranhas de seres monstruosos de nossa política que fariam os piores titãs da mitologia grega estremecerem de medo.
Querem nos calar. Querem que continuemos todos adormecidos. Entorpecidos com as flores de lotus.
Querem que continuemos em uma infinita e contagiosa paz sem voz.
E cabem aqui as derradeiras palavras de Eduardo Alves da Costa, em seu poema “No caminho com Maiakóvski”:
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”
Pois pois…
“PAZ SEM VOZ NÃO É PAZ, É MEDO” (Marcelo Yuka, Xandão, Marcelo Falcão, Marcelo Lobato e Lauro Farias – músicos da banda “O Rappa”).
INDIGNAÇÃO
- “Isso não nos amedronta. Vamos continuar fazendo oposição de forma dura e respeitosa para o bem do Maranhão”, afirmou, esta semana, o Dep. Othelino Neto (PCdoB) acerca das retaliações que vem sofrendo por parte do grupo político dominante em razão de suas incisivas denúncias sobre “o momento caótico do sistema penitenciário do Maranhão” .
- O Jornal Pequeno, fundado por Ribamar Bogéa, que há 62 anos é responsável por abrigar muitas das poucas vozes corajosas que se insurgem contra a hegemonia do poder local (que de forma completamente antidemocrática, insiste em sufocar qualquer tipo de discordância ou oposição) encontra-se sofrendo a ira de dinossauros de nossa política que, não aceitando o fluxo natural da evolução das espécies, recusam-se a serem extintos nas poças de piche com as quais prometem asfaltar todo o Estado.
VERDADE
- A democracia tem como objetivo maior impedir a cristalização do poder nas mãos de um, ou de alguns. Isso porque tal cristalização invariavelmente leva a abusos, ao totalitarismo, ao desrespeito às garantias individuais e coletivas.
- A maior ferramenta que a democracia dispõe para este fim é o chamado pluralismo político, que se constitui, em essência, na manutenção da diversidade de pensamento, do incentivo à diversidade de opiniões, de ideologias, na garantia de livre manifestação e, principalmente, na garantia de existência real de algo importantíssimo, chamado de OPOSIÇÃO.
- Tentar calar a oposição, tentar sufocar as opiniões divergentes, é tentar amordaçar a sociedade. É atentar contra os mais profundos fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito. Primeiro recurso de ditadores, de imperadores, de coronéis do cangaço e outras formas vulgares de tirania.
- Este ano é ano de eleições. Não deixemos que o carnaval e a copa do mundo nos faça esquecer. Chega de passar a mão na cabeça de quem nos sacaneia!
*Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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