quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A QUEM INTERESSA O PRECONCEITO E A DISCRIMINAÇÃO SOCIAL?







Poucos parecem perceber o momento extremamente delicado no qual vivemos. Por coincidência, ou não (e a segunda hipótese parece ser o caso), os brasileiros estão de ânimos bem acirrados, voltando-se uns contra os outros, em ataques violentos e inconsequentes, movidos pela intolerância, pelo preconceito, pela discriminação.


A velha máxima do “dividir para conquistar” parece estar sendo posta em prática por algum gênio do mal.

Vemos pessoas ingênuas recebendo pagamento para tumultuar manifestações. Grupos de milhares de pessoas induzidas a desrespeitar a lei e a ordem, a atacar as instituições, a agredir a polícia. 

Vemos pessoas atacando jornalistas, e jornalistas atacando pessoas. Vemos parlamentares intransigentes sendo colocados estrategicamente na direção de órgãos que deveriam agregar pessoas, a exemplo da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. 

E me pergunto: quem ganha com isso?

Vemos classes profissionais (como a dos médicos, ou a dos advogados) sendo desmoralizadas, insultadas, agredidas em generalizações simplistas, maniqueistas, em um manifesto esforço deliberado de se criar um caos generalizado. 

De jogar pessoas contra pessoas. Cidadãos contra cidadãos. Irmãos contra irmãos.

Vemos a diversidade cultural, profissional, de credos, de raças, enfim, todo o pluralismo social resguardado e garantido por nossa Constituição a fim de proteger e efetivar a dignidade da pessoa humana, transformado em cinzas, por meio de ações e palavras irresponsáveis e perigosas de um governo que parece querer insuflar a desagregação social, a hostilidade entre minorias de forma gratuita.

As pessoas estão sendo divididas em grupos, em torcidas organizadas, em facções. A sociedade está sendo desagregada, desorganizada, destituída, esfacelada.

A imensa sociedade plural brasileira, exemplo mundial de tolerância, de diversidade, está sendo transformada em minorias agredidas, em um imenso "apartheid tupiniquim".

As pessoas estão sendo transformadas em coisas à serviço de um governo que quer, a qualquer custo, perpetuar-se no poder.

Durante décadas, ou séculos, a sociedade brasileira tem lutado para conseguir se organizar. Acordar para a verdade de que apenas juntos, organizados, é que conseguimos nos impor aos excessos de nossos governantes. Aos abusos pessoais de agentes públicos. Aos abusos de poder do Estado, aos autoritarismos, à corrupção, à falta de comprometimento de nossos representantes.

Nos últimos anos temos conquistado vitórias gigantescas por meio da mobilização social. Da união dos cidadãos contra os abusos de seus representantes eleitos.

A lei da ficha limpa, que está literalmente limpando nossas eleições de sujos políticos profissionais que passaram suas vidas inteiras mamando nas tetas do Estado, tratando-nos como palhaços neste grande circo que tem sido a democracia brasileira, é um dos maiores avanços que nossa sociedade conquistou em nossa história por meio da mobilização social, da organização da sociedade civil.

Porém, o maior de todos os avanços foi a descoberta de que o único meio que temos efetivamente para fazerem valer nossos direitos e garantias constitucionais frente aos abusos de poder de nossos governantes é a união, a agregação das pessoas por uma causa justa, inerente a todos. Um anseio coletivo.

Dessa forma, já conseguimos derrubar deputados, senadores, governadores, um Presidente da República. Dessa forma conseguimos mudar as regras de nossas eleições, empurrando goela abaixo algo que nunca aqueles que fazem as leis em proveito próprio iriam aceitar.

Ano passado, diversas manifestações populares assombraram nossos governantes improbos. Mostraram-lhes o perigo da união social, da organização da sociedade civil, da canalização das indignações para um foco, a verdadeira causa de todos os males: a corrupção política.

Talvez, por isso, todo esse esforço em desagregar as pessoas, joga-las umas contra as outras, transformar a força da união plural de todos nós na fraqueza de muitas minorias isoladas. 

Joga-las umas contra as outras. Difundir o foco. Dispersar as indignações novamente para falsos problemas.

Como dito, a velha técnica do “dividir para conquistar”. 

O velho discurso fascista do terror. Da disseminação de falsos inimigos. Da exaltação da raiva e da violência. Da dicotomia de classes. Da discriminação de credos, de raças, de pessoas.

Estamos sendo induzidos a um estado de tensão social permanente. Estamos sendo induzidos a nos desmobilizar. Estão transformando nossa sociedade em um imenso pavio prestes a explodir algo.

Em breve, nossa realidade econômica, que tem sido mascarada há anos por meio de diversas maquiagens e manipulações de índices sociais e econômicos, chegará a um ponto insustentável, onde as ilusões cairão. Onde a verdade não conseguirá mais ser escondida.

E não é difícil de imaginar, a partir da história, o que acontece nesta situação com uma sociedade desagregada, insuflada ao ódio, à raiva, à violência, ao preconceito, à discriminação.

Abram os olhos. Precisamos perceber o que está acontecendo, antes que seja tarde demais.

Os inimigos não são nossos irmãos. Não somos nós, cidadãos, pessoas de bem, pessoas humanas em busca de sua felicidade.

Os verdadeiros inimigos são aqueles que estão tentando nos transformar em coisas, em simples meios para a sua perpetuação no poder.

A democracia, que se consubstancia em mecanismos que impedem a cristalização do poder na mão de um ou de alguns, é nossa maior conquista. É nossa maior segurança.

Não deixemos que a tomem de nós.

Voltemos ao foco. Com paz, amor, fraternidade, seriedade e união, somos fortes. Somos muitos!

E terão que nos respeitar.

*Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

Twitter: Edson_Vidigal
Facebook: edson.vidigal.36
e-mail: edsontravassosvidigal@gmail.com
Blog pessoal: edsontravassosvidigal.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário