Era uma vez um menino. Um menino frágil, magro, desamparado, carente, abandonado pela mãe, maltratado pelo pai, criado pelo vento.
Um dia esse menino cansou de esperar e procurou, procurou, procurou. Perdeu-se e ganhou a vida, nos trilhos de uma louca-motiva-ação.
Ele aprendeu que na vida os incêndios são obras do inimigo, e precisam ser apagados. E que fogo com fogo se paga.
Aprendeu a fazer fogueiras, a transformar faíscas em labaredas, e labaredas no mais forte inferno.
Cercou-se de demônios que pudessem conduzi-lo ao céu. E com seu exército de anjos decaídos, seguiu sua jornada às nuvens.
Trocou os trilhos por asas, e, vendo o mundo de cima, percebeu que não queria mais voltar a pôr os pés no chão. Perder-se em meio aos demais.
Aliou-se a outros incendiários, estes mais espertos e experientes. Mas deixou-se levar por sua vaidade e, cego ao que não queria ver, viu-se sem o tapete embaixo de seus pés.
Perdeu seu trono. Entretanto, não podendo mais suportar o chão, o "em meio aos demais", segue até hoje gastando todas as suas forças pulando, pulando, pulando, tentado voltar aos quentes jardins de onde caiu. Trocar tapinhas nas costas e intrigas com seus agora irmãos de fogo, que o odeiam.
Persona non grata no céu e no inferno.
Sua infância se foi. Sua adolescência se foi. Sua vida adulta. Sua velhice. Seus cabelos brancos. Seu amor. Seu coração.
E de tudo só resta um peito vazio, sem honra, sem respeito, sem carinho, sem dignidade, sem paz.
e só.
Somente só.
*Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.
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