domingo, 31 de agosto de 2014

MANUAL DOS PUDEROSOS DE PLANTÃO (PARTE 4)



Há quatro edições, em homenagem ao período eleitoral, a coluna A CIDADE NÃO PARA dedica-se a publicar, em partes, a série especial “Manual dos puderosos de plantão” (com “u” mesmo). Uma receita comprovada de como alcançar o poder e nele permanecer até o fim dos tempos (ou até que nós, cidadãos, não deixemos mais que nos enganem). 

Vejamos mais algumas técnicas, “da hora”, de COMO FAZER O ELEITOR DE TROUXA durante a campanha. Dicas preciosas para aqueles que pretendem se dedicar à profissão de sanguessuga social, e alcançar o tão desejado e disputado status de “puderoso de plantão”. Boa leitura!

1- PROPAGANDA ELEITORAL GRATUITA DE RÁDIO E TV - Bem, antes de tudo, a propaganda não é gratuita. É paga pelos cidadãos (a preço de ouro) às empresas de telecomunicações, que são concessões públicas e ganham dinheiro explorando um serviço público, que deveria ter função social (como manda nossa Constituição), mas tem servido apenas pra encher o bolso dos “puderosos” e ditar quais “puderosos” ascenderão e permanecerão no “puder”. Quando votaram a Lei Eleitoral, a propaganda ia ser gratuita. Mas o Dep. Fernando Gabeira (PV-RJ) ficou “com peninha” das emissoras de Rádio e TV e propôs que fosse paga (claro que depois elas ficaram “com peninha” dele também e o ajudaram a se reeleger...). De qualquer forma, pra você, “puderoso”, ela é de graça. E melhor: a legislação eleitoral diz que, quanto mais “puderoso” você for, mais tempo de rádio e TV você terá. Não é uma beleza? Não se preocupe porque os cidadãos nunca conseguirão entrar na política, porque quem é novo não ganha tempo de TV! (Rá! pegadinha do malandro...). Chame seu marqueteiro, sua agência de publicidade, capriche na maquiagem, nas frases de efeito que foram escritas pra você dizer e não se preocupe em decorar nada. Tem um monitor na câmera que vai passando tudo o que você tem que dizer e você só precisa ir lendo. Tome cuidado pra que o eleitor não perceba os seus olhinhos pra lá e pra cá enquanto estiver falando, porque senão vão perceber que você está lendo e não tem a menor idéia do que está dizendo…

2- COMITÊS ELEITORAIS E CASAS DE SIMPATIZANTES PAGAS - A legislação eleitoral não permite que um candidato pé de chinelo use “outdoors”, cole cartazes nas paredes etc. Mas não se preocupe. Você que é “puderoso” e tem muito “dindin”, pode alugar várias casas e terrenos e, sob o pretexto de montar um “Comitê Eleitoral”, encher o lugar (que, claro, fica nas vias públicas de maior movimento da cidade) de placas, outdoors, cartazes e tudo o que você tem direito. Ia me esquecendo: você também pode pagar pros cidadãos corruptos ou não esclarecidos, pra que eles “aluguem” o espaço de suas residências particulares pra você pôr cartazes, “mini-doors” etc. (quem tem casa em esquina se dá bem, já tem o dinheirinho do natal garantido). Só não esqueça de avisar o indivíduo que a legislação permite que ele se manifeste como cidadão consciente e tal, mas não permite que ele se venda ou alugue espaços de sua casa pra propaganda eleitoral. Diga pra ele que, se alguém questionar, responda: “Nãaaao, esse é o meu candidato de coração, desde que nasci. Sou cidadão consciente e estou fazendo a minha parte!” Se perguntarem: “Mas tem propaganda de 4 candidatos diferentes pro mesmo cargo?” ai o camarada responde: “Nada mais democrático, ora! Você é contra a democracia????”

3- DOBRADINHAS - Não se trata do prato típico de origem portuguêsa, feito de bucho de boi. Ao contrário, dá nó no estômago e indigestão braba no cidadão de bem. As tão famosas dobradinhas são os acordos eleitoreiros entre candidatos a cargos distintos. Por exemplo: Um candidato a deputado federal faz acordos com vários candidatos a deputado estadual, de regiões diferentes do Estado, de partidos diferentes, em troca de votos. Vale tudo. Tanto faz a ideologia de cada um desses partidos, afinal, a ideologia dos “puderosos de plantão” é apenas uma: “tenho que passar por cima de todo mundo, nem que pra isso eu tenha que passar por cima de todo mundo”. Tais acordos são de formatos variados, mas os mais tradicionais incluem troca de votos por votos, troca de votos por dinheiro, ou troca de votos por cargos públicos. Você me dá 10 mil votos pra deputado federal que eu te dou 5 mil votos pra deputado estadual. Você deve estar se perguntando como os puderosos garantem o que estão vendendo, comprando ou trocando, não é? Fácil, com a ajuda dos já aqui citados “líderes comunitários”. Os votos são garantidos, meu filho! Satisfação plena ou o seu dinheiro de volta. Normalmente os federais entram com o dinheiro na dobradinha e os estaduais entram com os votos, pois estão mais perto do “povo” (das pseudo-lideranças). Já viram o tanto de cartaz com um monte de gente junto? Pois é. Dobradinha, seu “minino”! O que você está esperando? Corra logo e faça o máximo de dobradinhas que puder. Com comunista, socialista, liberal, com o povo da oposição, da situação etc. Você sabe melhor que ninguém que “o que importa é ter puuudêeer !!!!!”


* Edson José Travassos Vidigal é candidato a deputado estadual nestas eleições pelo PTC, número 36222. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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