sábado, 2 de agosto de 2014

CARTA ABERTA (02.08.14)




Sei que muitos esperam que apareça um salvador. Um índio que desça de uma estrela colorida, brilhante. De uma estrela que virá numa velocidade estonteante, e que pouse no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante.

Sei que desde a vinda de cristo todos aguardam o seu retorno. Ou, enquanto isso não aconteça, esperam a aparição de um grande herói que possa lutar contra a tirania, a desigualdade, o mal em todas as suas formas. Que possa nos salvar daqueles que abusam de nossas vidas, de nossas esperanças, de nossos sonhos.

E isso é uma cultura incutida na cabeça de todos nós durante séculos, de forma a garantir que todos nós sejamos mansos, indefesos, despreparados, dependentes sempre de um outro alguém. 

De um dourado salvador, que nas horas convenientes sempre aparece na pele de um novo político novo, que representa o novo, a nova mudança, a nova esperança de novos dias, a nova alegria de viver. Um novo rosto que encobre as mesmas novas antigas práticas, os mesmos novos repisados vícios, os mesmos novos descaminhos que outrora foram seguidos por tantos outros novos antes deste.

Sempre o mesmo novo museu de grandes novidades.

Esse culto à personalidade que predomina em nossa política só nos leva a isso. A sermos iludidos de que alguém fará o que deve ser feito. A falsa ilusão de que alguém fará o que todos nós devemos fazer. Que podemos ficar sentados assistindo ao Faustão enquanto nossos heróis lutam e zelam por nós.

Ninguém fará o nosso trabalho. Ninguém fará por nós o que deve ser feito.

Nunca conseguiremos ser de fato livres enquanto não agirmos como tais. Donos de nossas escolhas, de nossos sonhos, de nossos pensamentos, de nossas ações.

Nunca nos livraremos da opressão, dos abusos de nossos governantes, enquanto não entendermos que esse salvador não existe. Que as únicas pessoas que podem nos salvar somos nós mesmos.

Se você quer algo, lute por isso. Faça o que deve ser feito. Não morra à espera de alguém que faça o que é o seu papel na sua vida.

Uma vez ouvi um relato de um velho político tradicional, que ainda se apresenta como novo apesar de seus lindos cabelos brancos, e de seus mais de meio século de vida política, que me fez parar pra refletir sobre toda a situação de nosso Estado de forma muito crítica, e a repensar posicionamentos meus antigos.

Ele me disse que entrou na política porque, ainda pequeno, criança, ao ver abusos cometidos contra a população, perguntou a alguém porque aquilo estava acontecendo. E lhe disseram que era a mando de um político mau, chamado Vitorino Freire. A partir de então ele decidiu dedicar a sua vida para salvar o Maranhão das garras de Vitorino Freire. E em sua cruzada contra o mal aliou-se ao herói da época, José Sarney, que tanto fez que conseguiu livrar o Maranhão de Vitorino Freire.

Tempos depois, continuou aquele político, percebeu ele que havia feito um grande mal lutando para ajudar José Sarney a alcançar o poder, pois Sarney não seria aquilo que ele acreditava. E se voltou contra Sarney, na tentativa de salvar o Maranhão das garras daquele falso herói. 

E isso tudo ele me disse como introdução para onde ele queria chegar. Dizer-me que havia aprendido a lição e não seria novamente enganado pelo herói que agora se apresentava à população. Que ele não iria cometer duas vezes na vida o mesmo erro (ou três). 

E não é que, para minha surpresa, esse velho novo senhor agora está pra lá e pra cá bebendo da água que havia jurado não mais beber? Mais uma vez se alistou na esquadra de um novo herói que salvará o Maranhão, como antes tantos outros também salvaram, e tantos outros continuarão ainda por toda a eternidade, jurando salvar.

E essa parábola (que não tenho certeza se é real ou ficção - qualquer coincidência é pura semelhança…) me levou a refletir, pensar, orar por sabedoria e compreensão necessárias para o discernimento.

E concluí que enquanto existirem heróis, sempre haverá fracos oprimidos a serem salvos.

Enquanto houver promessas de resolução, sempre existirão problemas a serem resolvidos.

Enquanto houver novos cavaleiros charmosos montados em seus negros corcéis, sempre existirão frágeis damas à espera de serem salvas, à mercê de serem abusadas.

Sinto desapontar alguns, mas eu não sou, nunca quis ser, e nunca serei um herói. Estou apenas fazendo a minha parte, cumprindo com o meu papel de cidadão. De pai, de marido. Estou apenas lutando contra a neblina que se instalou em nossa sociedade, em nossos pensamentos, que nos impede de ver o que de fato está acontecendo. Nos impede de entender o nosso verdadeiro papel nessa novela. 

O papel de protagonistas, e não de meros figurantes.

Estou apenas tentando fazer de minha vida um exemplo de que cada um pode fazer de sua vida um exemplo aos demais, e assim podemos todos construir uma sociedade mais justa, mais digna. Assim podemos criar nossos filhos para crescerem em um mundo melhor, livre de heróis e de bandidos. 

Livre de moinhos de vento e de donzelas assustadas.

Peço a todos os que convivem comigo, encarecidamente, que não me chamem de doutor. Não me chamem de deputado. Não caiam na armadilha que nos amaldiçoaram desse eterno culto à personalidade de alguns. Isso só serve para a discriminação social. Para a marginalização de muitos. Para o "endeusamento" de poucos.

Sou isso que vocês conhecem. Chato, Turrão, louco, persistente, insistente, sonhador, um pouco inocente, mas sobretudo consciente de muitos problemas que precisamos enfrentar se quisermos mudar nossa situação. E não podemos ceder às seduções das vaidades sociais, e ao mito do poderoso salvador.

Eu não posso salvar ninguém. Talvez nem a mim mesmo. 

Apenas juntos, acredito que possamos nos salvar a todos.

Um grande beijo a todos os amigos e obrigado por sua paciência comigo, por sua vontade de mudar e de fazer a diferença.


* Edson José Travassos Vidigal é candidato a deputado estadual nestas eleições pelo PTC, número 36222. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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