quarta-feira, 9 de julho de 2014

O que aprendemos do 7 a 1 de Brasil x Alemanha





Desde o final desse jogo, muito tem se discutido acerca dos motivos pelos quais o Brasil tomou essa goleada. E muito tem se atacado o governo do PT, os jogadores da seleção, o técnico Felipão, a cultura brasileira do jeitinho, os programas sociais do governo do PT, a forma marrenta e malandra com a qual tanto os jogadores brasileiros quanto boa parte de nossa população age no dia a dia, furando filas, corrompendo e sendo corrompidos, reclamando de tudo e não fazendo nada para mudar, pedindo sempre, e não dando quase nunca algo em troca, a falta de vontade de lutar para conquistar o que se almeja na vida etc.

E muitos têm concordado com tais alegações, e muitos outros tem atacado tais posicionamentos.

A partir de toda essa polêmica que foi gerada, penso eu que, acima de tudo, ganhamos o jogo. Ganhamos o jogo por vários motivos, dentre os quais gostaria de elencar alguns:

1- Os jogadores, mesmo sob forte pressão moral, abalados emocionalmente e enfraquecidos fisicamente e espiritualmente, depois de praticamente levarem 3 gols de uma só vez, não apelaram para a violência ou para qualquer outro artifício desleal ou apelativo. Mantiveram-se firmes, o mais firmes que puderam, dentro do espírito esportivo. Não desistiram. Tentaram e continuaram tentando. Mesmo sabendo que era quase certo que ainda iriam levar muitos outros gols, pois o time alemão estava muito bem preparado, engajado, enfim, era uma equipe coesa e forjada a partir de anos de preparação, e o Brasil, sem dois de seus principais jogadores, era um time ainda novo, que não estava preparado para esse desafio.

2- A torcida, mesmo abalada, e debaixo de uma goleada, ainda incentivou por muito tempo os jogadores brasileiros, dando exemplo de espírito de equipe, de sentimento de nação, de pertencimento. 

3- Após o intervalo, os jogadores vieram decididos a se empenhar muito mais, como deveriam ter feito desde o início da copa. Ou seja, abaixaram a cabeça, entenderam o sentido e a necessidade da humildade e da luta para a conquista.

4- Mesmo após perderem feio, mantiveram a postura, o espírito esportivo. O seu líder maior, Felipão, os uniu, conversou com todos, assumiu a responsabilidade por todos os erros e os consolou como pode. Da mesma forma, os jogadores, dando exemplo de esportividade, de espírito de equipe e de espírito cívico, se pronunciaram ao povo brasileiro de forma digna, sem buscar culpados, sem se eximir de culpa, mostrando que haviam aprendido uma dura lição, uma lição que ainda estavam digerindo, mas que aceitaram dar valor, ao invés de negar e fingir que não era com eles.

5- Quando sempre ganhamos, parece que tudo vai bem, e aos poucos vamos nos perdendo de nossas origens, de nossos objetivos, de nossa luta. Do que somos. Quando sempre ganhamos, esquecemos que o objetivo não é ganhar, mas jogar. Jogar sempre. Estar sempre na luta por sermos cada dia melhores. Por nos superarmos a cada queda, a cada arranhão, a cada derrota. É dos erros que crescemos. Não dos acertos. O que acertamos é o que já sabemos. O que erramos nos leva a aprender algo novo. A crescer. A evoluir e a seguir sempre em frente. Essa partida serviu para nos lembrar, a todos, que precisamos nos arriscar a perder, a errar, mas, sempre, precisamos perceber nossos erros, buscar entendê-los, para que sejam superados, com força, dedicação e muito suor.

6- O sentimento de frustração pela derrota da seleção levou milhões de pessoas em nosso país a debaterem política, a discutirem política, a entenderem que uma seleção de atletas que se diz ser brasileira, que pretende representar nossa nação, tem, sim, responsabilidade política, e, sim, faz parte das discussões políticas. E espelha nosso governo, nosso povo, nossos problemas, nossas necessidades, nossas expectativas, nossos sonhos. Entender isso é muito salutar. A paixão brasileira que é o futebol deveria ser utilizada por nossos políticos para agregar. Para disseminar cultura, educação. Para fomentar bons exemplos. Exemplos de luta, de dedicação, de esforço, de suor do trabalho para conquistar os objetivos. Mas infelizmente a paixão brasileira pelo futebol é utilizada por nossos políticos para a alienação cultural, política, social. Para disseminar exemplos de vadiagem, de promiscuidades, mostrando orgias de jogadores, malandragens, picaretagens, jogadores que dizem com a maior cara de pau que não precisam treinar porque já nasceram prontos. Péssimos exemplos para nossas crianças, que são sempre o nosso futuro. O sentimento de frustração que o 7 a 1 pra Alemanha nos causou é muito salutar para todos os jogadores da seleção, para todos os demais jogadores e atletas brasileiros, e para toda nossa nação. Para que possamos repensar nossos valores, e entender que, melhor do que aprender macetes, é aprender o ofício da forma correta. Melhor que furar filas, é respeitar os demais que já estão esperando, para que, quando chegue a sua vez, você também seja respeitado.

7- Este jogo se transformará, para sempre, em um mito, uma alegoria a servir de exemplo a muitas reflexões. Uma tragédia grega que lembrará a todos os brasileiros, amantes do futebol, que nunca nascemos prontos. Que ninguém nunca está totalmente pronto pra nada. Que o caminho mais fácil leva à derrota. Que precisamos nos libertar dessa cultura do jeitinho, da marra, da arrogância, da malandragem. Que precisamos respeitar aqueles que lutam para conquistar seus objetivos. Que precisamos nos espelhar nesse tipo de gente. A seleção Alemã nos deu uma grande lição, não só de como se joga futebol, de como se arma uma equipe, de como se adquire condicionamento físico e técnica apurada, mas uma lição de vida: Que é do esforço, da seriedade, do comprometimento, da organização e, principalmente do trabalho de EQUIPE, que se extrai resultados nos jogos e na vida.

8- O governo federal vem se esforçando por meio de todos os veículos de comunicação possíveis, com mil pesquisas científicas e blá bla blás, em convencer os brasileiros de que a euforia da copa do mundo não contamina as eleições. Esse jogo vai mostrar a todos que é claro que contamina. Tudo contamina as eleições. As eleições refletem um estado emocional, psíquico, dos eleitores no momento do voto. Muitos se deixam levar pelas emoções, sem perceber que deste momento singelo vai depender durante, no minímo, os próximos quatro anos. Também podemos aprender com a seleção da Alemanha a, no momento do voto, em outrubro, não sermos imediatistas, abandonarmos os jeitinho, os falsos deuses, a malandragem, e termos humildade para parar, pensar, refletir, buscar entender que nunca estamos prontos o suficiente, e por isso precisamos estudar, ler, buscar o máximo de informações e nos capacitar para exercer o maior de todos os papéis que exercemos em nossa sociedade: o de cidadãos brasileiros conscientes. Só assim ganharemos esse jogo chamado Política Brasileira. Só assim sairemos vencedores dessa Copa do Mundo.

*Edson Travassos Vidigal é advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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